Por DONI Assis
Onde está a História?
Rua da Carioca Rio de Janeiro 1902.
Desde 1991 estou envolvido com o conhecimento histórico. Da teoria dentro da universidade para uma prática de ensino nas escolas onde trabalhei pude acumular diversas experiências e leituras. A vivência com a experiência de ensino na área me mostrou que a História é muito mais do que reivindica o senso comum, conhecimento do passado. A crítica não é novidade entre outros historiadores, mas socialmente ainda não foi superada. No entanto, detecto uma transição vendo o ganho de espaço do conhecimento histórico em meio às crises vigentes. Muito tem se reivindicado a presença do conhecimento histórico afim de auxiliar na reflexão dos grandes problemas atuais. O universo de autores que afirmam a presença da historicidade do sujeito quando este mergulhado nos eventos de transformação na sociedade, não apenas confirmam tal realidade como apontam para uma nova dinâmica para o conhecimento e para a historiografia. Acredito sem qualquer sombra de dúvida estar construindo a História neste exato instante que redijo este texto, assim como acredito que você ao lê-lo também o faz tendo em vista a presença de mais pessoas a refletirem sobre a História.
A História portanto supera o teórico e ganha o espaço da construção no presente. Aglutina tradições, transições e convida ao ato da transformação. Ela está na memória, no documento, no registro e no exercício da manipulação de todos esses instrumentos. Olhando uma foto de uma rua em reformas no início do século passado encontro a História de tantos homens e mulheres que presenciaram suas transformações, seja pelo árduo trabalho na época como na reflexão de seus significados muitos anos mais tarde. A História está aí! No presente da memória. Da tradição. Na reflexão e na necessidade de jamais perde-la de vista tendo consciência de que na sua dinâmica ela se supera a cada dia criando novas frentes de conhecimento.
Como se faz a História?
Invasão soviética à Tchecoslováquia em 1968. Foto: Wurtz-Taieb/Gamma.
A História é movimento! A História é dinâmica! A história É! Seja na historicidade de cada um de nós, seja no trabalho de sala de aula ou em nossas leituras dos grandes clássicos, compêndios ou manuais de História, ela vive uma dinâmica própria. O homem grego na Antiguidade já reconhecia na própria movimentação de suas vidas a constância dos fatos em permanente movimento. Nas teorias de Heráclito ou Demócrito a perfeita harmonia de pensamento. Jamais somos os mesmos depois de qualquer evento. Ao deparar-se com o conhecimento histórico sou brutalmente retirado de uma situação passiva e conformista de limites impostos pelas regras sociais. Na sala de aula penso que meu aluno deva se incomodar com as reflexões sugeridas. Nas leituras que faço também acredito numa permanente incompreensão dos "porquês" da vida! No exercício da cidadania também vejo a História em construção, seja na reafirmação de costumes, culturas, doutrinas, dogmas e demais legados da humanidade ou na contestação dos mesmos. Acredito numa História Revolucionária. Revolucionária dos costumes, crítica da principal fonte de conhecimento hoje em dia, os Meios de Comunicação Social. Sendo historiador, na profundidade de uma pesquisa, na dinâmica de uma aula ou na presença do cotidiano se em nada muda para aqueles que destas ações são "vítimas" de nada servirá a História então. Não se faz a História. Se é feita, na refutação deste princípio, é a mais canalha das "Histórias".
E quem faz a História?
Passeata de estudantes em São Paulo, em 1978. Foto: Sérgio Sade.
Greve no Largo do Palácio, 1917, São Paulo. Foto: Reprodução Iconographia.
Velha pergunta. Muitas respostas. "Todos fazem História!". Assim dizem os manuais do conhecimento histórico. E onde estão os registros da História de tanta gente que a Historiografia oficial "deixou para lá"? Porque ainda se referencia tantos "heróis"? Minha geração ainda vive a quase interminável tarefa de pesquisar e refletir sobre os tantos esquecidos da História. É questão de opção! Muito me sensibiliza o que há de conhecimento possível para ser lido, sobre o homem do campo no nordeste do século XIX. Fico a pensar sobre a vida dos que foram massacrados em Canudos no interior da Bahia em 1897. Da vida sofrida dos imigrantes do início do século XX. Dos operários, dos negros, de toda classe trabalhadora e daqueles que não possuem nenhuma referência nos compêndios historiográficos! São os rostos anônimos das tantas fotos e demais iconografias de época. Gente "sem nome", mas com tanta História. História de construção e reconstrução..........
BIBLIOGRAFIA
(citação de algumas leituras)
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