Entre 1998 a 2004, foram várias tentativas e formatos de criar uma forma de comunicação além sala de aula com os alunos. O BD ou Boletim Doni e a História, chegou a ser enviado para mais de 500 endereços de e mail. Ao passar do tempo, o informativo ganhou muitos nomes diferentes. Diria que foi uma proto rede social em Educação.
BD BOLETIM
DONIEAHISTÓRIA
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Nº
80 – 14/04/2003 – divulgamos nossos boletins desde setembro de 2001 – 540
leitores
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Amigo leitor;
Mudamos o formato do
boletim para facilitar sua leitura e também para evitar os problemas de
configuração de e mails que modificavam as mensagens, trocando letras e acentos
por sinais. Recebendo corretamente esta mensagem, escreva para nós contando o
que achou da idéia!
Um abraço.
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MULHERES, FARRAPOS, IBOPE E A FARSA HISTÓRICA!
Por DJNI® ASSIS – Professor de História/Colégio Farroupilha
C
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omo ocorre todo
início de ano a Rede Globo, visando angariar os altos índices de audiência numa
época morna de início de ano, pós-férias, carnaval e uma certa preguiça
intelectual, meio ressaca fruto dos festejos de fim de ano, a emissora do velho
Marinho lança mais uma minissérie tendo como temática um evento histórico
importante!
A jogada deu certo em outras épocas!
E porque não agora? Bons tempos de IBOPE nas nuvens com ótimas produções como
Anos Rebeldes (1992), Anos Dourados (1986), O Tempo e o Vento (1985), Agosto
(1993), Chiquinha Gonzaga (1999) e tantas outras que residem hoje nas
lembranças dos eternos amantes da telinha. Mas foi a partir de 2000, que as
minisséries ganharam contornos ousados na reflexão histórica. Uma certa
“obrigatoriedade” de passar ao telespectador a noção de que; “hei bobalhão!
Olha agora nossas novelonas são sérias, abordam temas históricos como no
cinema!” E foi assim com “A Aquarela do Brasil”, “A Muralha”, “O Quinto dos
Infernos” e atualmente “A Casa das Sete Mulheres”.
E misturam-se todas as “bolas” em
nome de princípios toscos; audiência + ibope + pseudo-seriedade, desculpas
didáticas para que todas as faixas etárias assistam = visão distorcida da
História. E dá-lhe nudez, cenas de sexo, baixaria nua e crua no sentido
literal. Enfim tudo que sempre teve nas novelas. É! Aquelas mesmas de nomes
estranhos; “Uga! Uga!”. Mas agora “há história”. Um meio fio a isentar os
pretensos homens sérios de nossa cultura de massas a advogar em nome do IBOPE
uma certa segunda intenção; “ensinar História!”. E aí que entram minhas
críticas.
Foi-se bem rapidinho a época em que
certos pensadores da educação brasileira acreditavam que um aparelho de TV, um
vídeo ou um computador pudesse substituir os professores! Lamento reconhecer
que há uma série de idiotas nos governos que acreditam nesta conversa de
recursos eletrônicos que “garantem” o aprendizado. Bobagem! Por muito tempo
ainda os professores vão ser fundamentais no processo de difusão de idéias e
opiniões sobre os temas tratados.
A IMPORTÂNCIA DO “FESSOR”
Neste
início de ano de guerra (mais uma!) no Oriente Médio eis que o professor de
História viu a necessidade de discutir essas questões com os alunos.
Aproveitando a circunstância dos conteúdos houve a junção de dois momentos
oportunos para o confronto necessário entre a TV e a História. Estudando o
processo de Independência do Brasil na oitava série, eis que o professor DJNI® apresentou aos alunos um compacto da minissérie “O Quinto dos
Infernos”. E em pouco mais de 1 hora e 15 todo o conteúdo realmente didático do
período histórico apresentado. Em mais de 36 horas de gravação o professor
“garimpou” menos que 3% do total que se aproveitasse. O resto? Piadas infames,
o silicone de Danielle Winits, a interpretação sempre “mala” de Humberto
Martins, as impagáveis representações de André Mattos como D. João VI e Marcos
Palmeira como D. Pedro.
Os alunos apontaram
com razão os exageros utilizando técnicas de historiador; DISTÂNCIAS e
PROXIMIDADES. Apesar de “tudo” há de se considerar todo o esforço na reprodução
de época e mesmo o fato de um tema até então visto como ato de heroísmo de
poucos, o grito da Independência, ser revisto sob a lente cruel de Francisco
Gomes, O Chalaça, uma espécie de “secretário particular” de D. Pedro I.
MUDARAM DE ASSUNTO, MAS AS
INTENÇÕES SÃO AS MESMAS!
A partir de um livro de Letícia
Wierchowski, “A Casa das Sete Mulheres”, Maria Adelaide Amaral adaptou o tema
para a TV. E temos aí mais uma minissérie. Sabe-se que o livro é recente! A
adaptação mais recente ainda! Corre por aí que foi uma “encomenda” da Rede
Globo. De qualquer forma temos o conflito mais longo de nossa história. A
Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha. Conflito que durou dez anos e
deixou marcas em nossa história que vão muito além do que tem sido mostrado.
Investindo na beleza de seu casting,
a Globo trouxe seus mais bonitos rostos pra “enfeitar” a telinha e dar
conotação do que realmente tem sido supervalorizado na minissérie. A idéia
ultrapassada do heroísmo pessoal e de ações quase sobre humanas nos personagens
de Giuseppe Garibaldi e Anita. Valoriza-se o essencialmente superficial nessa
discussão toda e confirma-se o que há de mais tradicional no conhecimento
histórico. A revolta teria sido mesmo ação dos ricos fazendeiros do sul e que
contaram com o estrito apoio da patuléia pobre e miserável do sul. Negros e
camponeses teriam doado seu sangue nesta guerra acreditando que de fato as
elites lutavam em seu nome. Confiram nos trabalhos aqui apresentados como os
acordos finais do conflito apresentam as maiores traições de nossa história
recente. Farroupilhas brigaram muito sul para deixar exatamente como estava.
Refiro-me as questões sociais.
Convido
o leitor a estudar de fato o conflito observando e lendo com calma a pesquisa
dos alunos da 8ª série que refletem justamente esse fundamento histórico tão
pobre e ausente nas minisséries globais. É como se de fato, o leitor da
História do Brasil fosse mesmo “aturar” os infindáveis romances das mulheres
que envolvem na vida de Bento Gonçalves.
Por fim televisão é farsa, é
dissimulação e está inserida num mercado onde o “vale tudo” rompe com as éticas
da cultura organizada. Tudo é válido até porque historiadores ou não,
discordando ou achando que as minisséries são ruins, o máximo que podemos fazer
é assisti-las com olhar crítico ou desligar a TV. E me fica na lembrança quando
discutimos essas questões a propaganda do Ministério das Forças Armadas do
Brasil, quando três jovens interrompem seu futebolzinho pra ir se alistar.
“Oras façam-me o favor!”. Já bastam as minisséries!
@@@
=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=
Somos todos iguais?
=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=
Fritz Utzeri
Jornal do Brasil
Domingo, 06 de abril de 2003.
Somos todos iguais?
=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=
Fritz Utzeri
Jornal do Brasil
Domingo, 06 de abril de 2003.
A
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tragédia humana no Iraque tem nome. É Razek
al-Kazem al-Kahaf. Ele perdeu, em poucos segundos, a mulher, seis filhos, o
pai, a mãe, três irmãos e suas cunhadas. Quinze vítimas, mortas pelo exército
de George W. Bush. Razek, certamente, agradecerá a Alá pela liberdade em que
passará a viver quando o assassino Saddam tiver sido eliminado.
Como todo mundo sabe, Saddam preparava-se
para enlutar famílias americanas usando poderosas armas de destruição em massa.
Razek ainda acabará entendendo as razões dos ianques que detiveram a tempo a
mão assassina do monstro. E, afinal, como diria Peter Arnett: "Quinze
mortos não são tantos assim". Por que chorar?
Não se deixem enganar pelas imagens de
bebês destroçados, ensangüentados, jogados entre trapos sujos e cheios de
moscas em rústicos caixotes de madeira. Não se preocupem. Não chorem por eles.
São apenas iraquianos, pobres diabos de vida barata, que não merecem sequer uma
flor. Meros "danos colaterais", estatísticas de uma guerra contra a
barbárie, movida em nome de Cristo e da Civilização.
Indignados estaríamos se as vítimas fossem
crianças brancas, nutridas, que brincam de guerra com seus videogames, usam
tênis Nike (aqueles feitos por pequenos escravos chineses), bebem Coca-Cola e
freqüentam o McDonald's; ou seja, "nossas" crianças. Imaginem a indignação
na terra de Tio Sam se um helicóptero árabe disparasse um míssil sobre a
família de um certo John Taylor, eliminando-a. Crime contra a humanidade!
O local se entupiria de flores, como
santuário. As TVs passariam e repassariam a cena. Os EUA não descansariam
enquanto não punissem exemplarmente o terrorista e seus mandantes. Graças a
Deus, isso não aconteceu. Morreram apenas civis iraquianos e, como se sabe, são
necessários muitos iraquianos mortos para equivaler a um único americano
perdido. Ninharia...
Não entendo por que sociólogos ou
antropólogos não pleiteiam bolsas para fazer estudos comparativos sobre o valor
das vidas dos seres humanos. (Sou candidato a uma, vou precisar.) Diz a lenda
que somos todos iguais. Será? Para começar poderíamos estabelecer como
referência a vida dos norte-americanos. Quanto vale uma vida ianque? Os EUA já
fizeram essa conta há 59 anos e esta resultou em duas bombas atômicas.
Hiroshima e Nagasaki. Milhares de crianças, mulheres e velhos japoneses (meros
amarelos) foram vaporizados no holocausto nuclear para evitar a morte de GIs do
Texas, Califórnia, Ohio etc.
A vida de um norte-americano vale,
certamente, mais do que uma vida inglesa, francesa ou alemã, mas não muito (as
duas últimas desvalorizaram um pouco em função da posição da França e da
Alemanha nesta guerra). Ousaria dizer que a vida de dois europeus ocidentais
(portugueses, espanhóis e italianos valendo menos) equivale a uma vida ianque.
Vidas israelenses andam perto dessa cotação. Se tomarmos russos como parâmetro
será preciso matar uns cinco, talvez seis. E quantos brasileiros terão que ser
eliminados para equivaler a um norte-americano? Agora imaginem árabes, negros
ou vietnamitas...
E o mais irônico é que os assassinos dos
filhos de Razek batizaram o sinistro helicóptero que os matou com o nome do
povo índio que exterminaram, sem piedade, para roubar-lhe a terra: Apache!
Jerônimo deve dar pulos de indignação em sua tumba.
E a imprensa continua com a ficção das
"bombas inteligentes". São bombas serial killers, tão inteligentes
quanto Hannibal Lector. A bomba que "libertou" a família de Razek é
de fragmentação. Ela carrega 200 minibombas que se espalham e explodem na
superfície do solo lançando uma onda de fragmentos, afiados como navalhas, que
ferem e matam num raio de 200metros. Não demole, nem danifica, prédios ou
pontes. É feita para matar. Equivale a minas terrestres jogadas de avião. É
arma assassina.
O que diz disso a Convenção de Genebra,
zelosamente invocada pelos ianques quando os iraquianos mostram prisioneiros
norte-americanos na TV? Presos tratados a pão-de-ló, quando comparados à
maneira nazista como são torturados os afegãos em poder dos esbirros de Bush
& cia, na base de Guantanamo, terra roubada de Cuba em...
Mas isso já é outra História.
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