PALESTRA "A NOVA ORDEM MUNDIAL E A EDUCAÇÃO"
Título: “A Nova Ordem Mundial e a Educação” / Por: Doni Assis
Caetano Veloso
Vapor Barato, um mero serviçal do narcotráfico,
Foi encontrado na ruína de uma escola em construção
Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína
Tudo é menino e menina no olho da rua
O asfalto, a ponte, o viaduto ganindo pra lua
Nada continua
E o cano da pistola que as crianças mordem
Reflete todas as cores da paisagem da cidade que é muito
mais bonita e
muito mais intensa do que um cartão postal
Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial
Escuras coxas duras tuas duas de acrobata mulata,
Tua batata da perna moderna, a trupe intrépida em que fluis
Te encontro em Sampa de onde mal se vê quem sobe
ou desce a rampa
Alguma coisa em nossa transa é quase luz forte demais
Parece pôr tudo à prova, parece fogo, parece, parece paz
Parece paz
Pletora de alegria, um show de Jorge Benjor dentro de nós
É muito, é grande, é total
Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial
Meu canto esconde-se como um bando de ianomânis
na floresta
Na minha testa caem, vêm colar-se plumas de um velho cocar
Estou de pé em cima do monte de imundo lixo baiano
Cuspo chicletes do ódio no esgoto exposto do Leblon
Mas retribuo a piscadela do garoto de frete do Trianon
Eu sei o que é bom
Eu não espero pelo dia em que todos os homens concordem
Apenas sei de diversas harmonias bonitas possíveis sem juízo final
Alguma coisa está fora da ordem
Fora da nova ordem mundial
© Ed. Uns Produções
Introduções necessárias;
1 – Visão da palestra é de um historiador, apesar do assunto ser também/principalmente de economia, sociologia, filosófico e político.
2 – Mas há para todos a possibilidade de complemento ou refutação.
Visão da história que pode ajudar a compreender o assunto;
“Podemos, devemos interessar-nos por mil outras coisas. Mas para a História do mundo contemporâneo, que é estudada paralelamente pelo economista e pelo geógrafo, pelo sociólogo ou pelo demógrafo, o acontecimento, é sem dúvida, o ponto de vista privilegiado. É provavelmente, avia de acesso real à História do presente”.
“Hoje em dia, o mais pequeno acontecimento é vivido como sendo já histórico, memorável, inscrevendo-se já na História, quando nem sequer se sabe se ele terá lugar ou se viera a ter alguma importância”.
Pierre Nora (historiador francês, em entrevista dada a Jean-Jacques Brochier, incluída no livro “A Nova História”, vários autores, Coleção Lugar na História, edições 70.
Sobre a possibilidade de refutação e confirmação de que esta palestra não está sendo dada com a perspectiva de ser uma realidade/verdade final leia-se Karl Popper, historiador austríaco morto em 1994. Para Popper, o cientista deve estar mais preocupado não com a explicação e justificação da sua teoria, mas com o levantamento de possíveis teorias que a refutem. Ou seja, o que garante a verdade do discurso científico é a condição de refutabilidade. Quando a teoria resiste à refutação ela é confirmada.
“... se formos acríticos, sempre encontraremos o que queremos: procuraremos, e acharemos, confirmações, e não buscaremos, e não veremos, o que quer que possa ser perigoso para nossas teorias mais queridas. Desta forma é extremamente fácil obter o que aparentará ser evidência avassaladora em favor de uma teoria que, se abordada criticamente, teria sido refutada”.
(fragmento retirado da biografia de Popper, por Frederic Raphael, coleção Grandes Filósofos da História, página 37, citação do livro Conhecimento objetivo: uma abordagem evolucionária, tradução Milton Amado, Belo Horizonte: Itatiaia, São Paulo: Edusp, 1975.).
Ainda sobre a introdução da palestra. Muitas informações aqui passadas são apenas comunicação de dados numéricos, pesquisas e levantamentos a partir de uma realidade concreta. A interpretação das mesmas é que merecerá por parte de quem vai ouvi-la, a possibilidade de refutação. Às vezes ouço que o professor “x” ou “y” ensinou algo errado. Oras, o que de fato está errado? A comunicação dos dados, erros precisos dos números ou equívocos interpretativos de autores terceiros?
ESTRUTURA DA PALESTRA:
O que vamos tratar?
1. A questão da Ordem Mundial. Definição, conceito e quem determina a “ordem”? O que seria “desordem mundial?” Quando começou? Hoje vivemos o que exatamente?
2. Colocar em ordem ou em desordem no mundo inteiro significaria CONHECER. Só modifico, coloco em ordem aquilo que de fato CONHEÇO. Só manipulo, tiro, mudo de lugar o que supostamente CONHEÇO em tese o que significa, o quanto pesa, mede, seu cheiro, sua forma e as conseqüências e repercussões da pós-mudança. O problema do conhecimento ao longo da história da humanidade. Desde os filósofos antigos o CONHECIMENTO é uma libertação, mas também é um problema! Afinal o que é o conhecimento? Para que serve? Quem o determina?
3. A Educação hoje dentro dessa “ordem” ou “desordem”. O financiamento da educação, o problema dos governos e seus projetos educacionais.
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1ª parte: Ordem e desordem.
Um breve conceito;
“Denominamos ordem internacional ao conjunto de características geopolíticas e econômicas mundiais reveladoras de uma situação de equilíbrio de poder, em certo momento da história. Para explicar um a determinada ordem internacional nos valemos de uma periodização em que escolhemos um fato ou data para demarcar o fim de uma era e o começo de outra, separadas por mudanças profundas, embora às vezes imperceptíveis. O processo de transformação, em verdade, ocorre de forma lenta, com diversos fatos concomitantes indicando a morte de um período, ao mesmo tempo em que influem no nascimento de outro”.
(fragmento do Atlas Geopolítica de Reinaldo Scalzaretto e Demétrio Magnolli, SP, editora Scipione, 1996).
A História que conhecemos e estudamos, do ponto de vista do conhecimento factual sempre teve uma perspectiva ocidental. O que seria isso? Sempre olhamos/estudamos o mundo pelo olhar ocidentalizado, ou seja, culturalmente falando a partir do pensamento greco-romano. Com influências do cristianismo e do catolicismo europeu, nossa história sempre possuiu essa “ordem” imaginária que o mundo conhecido seria apenas esse. Que o mundo oriental seria no mínimo bizarro, engraçado, distante, desconhecido e incompreensível. Infelizmente ainda reproduzimos isso. A forma maniqueísta como estamos vendo e ouvindo falar dos afegãos, árabes e muçulmanos em geral é prova inicial da forma como vemos esse mundo em “ordem”.
Apesar de ser um assunto novo, a idéia de um mundo em “ordem” ou “desordem” remonta ao início da chamada modernidade do século XVI, ou seja, com o início das chamadas Grandes Navegações. A Europa necessitando crescer alem dos seus limites inicia um projeto político em busca de novos territórios a Leste. Ou seja, a América. A Nova Ordem mundial do século XVI em diante é a
ordem determinada por um grupo de ricos endinheirados e com condições de manipular a geografia mundial. Mercadores, mais tarde burgueses, estabelecem estados, criam novas religiões, criam novas rotas de comércio, fundam cidades, financiam um novo padrão cultural e destroem a velha ordem mundial.
FEUDALISMO/DOMÍNIO ABSOLUTO DA IGREJA CATÓLICA/TEOCENTRISMO/CONDENAÇÃO DOS LUCROS E DA LIBERDADE PLENA DO HOMEM.
Que fique claro que essa primeira noção de ordem mundial tem a cara dos europeus! O oriente; Japão, China e Índia são periféricos na visão dos mercantilistas e tem apenas a função de fornecimento de alguns produtos para a Europa. Foi acidental mesmo que a busca de rotas alternativas para o oriente fizesse com que os europeus chegassem na América.
Podemos dar alguns contornos interpretativos a essa ordem mundial do início da modernidade.
Se na Idade Média entendia-se o mundo a partir das explicações teológicas, o início da Modernidade também é marca para novas explicações do homem e do mundo.
Novidades trazidas pela Modernidade que vão ajudar a entender a Nova Ordem
1 – Antropocentrismo. O mundo parte do Homem Racional.
2 – Revolução científica. O uso da razão para entender o mundo.
3 – A força do dinheiro como agente de organização da sociedade.
4 – Constituição do Estado Nacional e suas forças. Organiza-se o mundo pela força político-militar.
Primeira bandeira a organizar uma Ordem Mundial:
A Inglaterra ou Império Britânico no início do século XVIII começa a viver sua primeira Revolução Industrial. O rápido enriquecimento, o fortalecimento de um setor social cada vez mais poderosos e que também estabelece relações de ganho com as possessões coloniais determina no mundo uma nova ordem.
Exemplos: Portugal = Brasil
Aliou-se ao Império Britânico outros países como França, Alemanha, Rússia e mais tarde os Estados Unidos e Japão. Estes dois últimos já no século XX.
No final do século XIX nasce uma Nova Ordem. Esta também determinada pela força do capital.
Período do Imperialismo europeu sobre países da Ásia e continente Africano.
O maior império desta época foi o do Reino Unido (Inglaterra) que chegou a possuir mais de 33 milhões de quilômetros quadrados. Canadá, Ilhas nas Antilhas, Austrália, Índia e regiões do Oriente Médio.
“Globalização é o processo pelo qual o espaço mundial adquire unidade. O ponto de partida desse movimento das Grandes Navegações européias do século XV e XVI que conferiram unidade à aventura histórica dos povos e configuraram, na consciência dos homens, pela primeira vez, a imagem geográfica do planeta”.
(fragmento do capítulo 1/A Longa História do Novo Conceito do livro Globalização Estado Nacional e espaço Mundial, SP, Editora Moderna, 1997.).
Fatores determinantes para uma Nova Ordem;
a) Desenvolvimento dos transportes terrestres.
b) Desenvolvimento dos transportes marítimos/agilidade marítima.
c) Evolução dos meios de comunicação/telégrafo.
d) Investimento e construção de portos, ferrovias, usinas elétricas e sistemas de iluminação urbana.
Busca-se nesta nova ordem uma forma de uniformizar as bases do processo de industrialização. A cidade vai virando base logística para tal. A indústria vai deixando a periferia e aproxima-se da cidade. No mundo industrializado essa é a ordem. Os países mais pobres vão se tornando meros fornecedores de matéria prima a esse desenvolvimento. Insere-se na Nova Ordem pela porta dos fundos. Colônias de exploração. Não podiam industrializar-se e tinham que adquirir mercadorias industrializadas dos mais ricos.
SÉCULO XX:O rápido desenvolvimento do capital e a concorrência imperialista eram tão forte, que sobrevivei até a uma guerra de proporções mundiais de 1914 (Primeira Guerra Mundial) até 1918. No entanto em 1929 uma grande crise econômica nos EUA vai determinar a transição para uma nova ordem mundial.
A Europa tinha saído arrasada no final da Primeira Guerra e fora os EUA a financiarem a reconstrução de alguns países. Sendo credor e fornecedor de roupas, armamentos, alimentos e outros suplementos de sobrevivência, os estadunidenses enriqueceram rápido. Mas com o fim da guerra, a produção desaqueceu ficando a mais aquecida economia do mundo dependente apenas do capital financeiro.
A crise na bolsa obrigou os EUA a reverem sua estrutura econômica e política.
Bem rapidamente uma Nova Ordem se configurou aí; A destruída Alemanha na Primeira Guerra Mundial voltou a se fortalecer e inicia a partir de 1933 um projeto extremamente ousado. O III Reich coordenado por Adolf Hitler. Aliando-se ao Japão e Itália essa ordem entra em conflito a partir de 1939 na Segunda Grande Guerra Mundial. Não caberia aqui toda uma explicação do processo de desenvolvimento da guerra e poderíamos ir direto a sua conclusão. A derrota da Alemanha e dos países do Eixo, vão proporcionar condições aliadas à destruição da Europa, palco principal do conflito para o surgimento de um novo mundo ou uma Nova Ordem
Mundial, esta determinada por um modelo bipolar de poder. Distanciado geograficamente do conflito os EUA terminaram a guerra junto com a Rússia e todo bloco soviético (URSS) como os grandes nomes a gerarem as raízes para a Nova Ordem mundial.
O poder bipolar era caracterizado por dois modelos antagônicos para a sociedade e a economia. O capitalismo liberal dos EUA e o modelo socialista da URSS.
A Nova Ordem Mundial de quase todo século XX foi determinada, portanto por esses fatores pós 1945. Aliados na destruição da Alemanha Nazista, EUA e URSS agora brigavam pela hegemonia do mundo.
A Guerra Fria ou a bipolaridade determinante desta Nova Ordem durou até 1989 quando a Alemanha então dividida em duas partes pertencentes aos blocos políticos dominantes teve seu símbolo de divisão ruindo pelas reformas e pressões políticas no lado soviético.
“Os últimos anos da União Soviética foram uma catástrofe em câmara lenta. A queda dos satélites europeus em 1989 e a relutante aceitação por Moscou da reunificação alemã demonstraram o colapso da União Soviética como potência internacional, mais ainda como superpotência. (...) Em termos internacionais, a URSS era como um país abrangente derrotado, como após uma grande guerra – só que sem guerra”.
(fragmento do livro “A Era dos Extremos O breve século XX 1914-1991” de Eric Hobsbawn, SP, Cia das Letras, 1995, página 446).
Para Hobsbawn não somente o bloco soviético estaria terminando e sim o próprio século XX, iniciado com a Primeira Guerra Mundial que tinha reordenado a questão dos blocos imperialistas do século XIX. A Nova Ordem mundial foi deflagrada pela disparidade tecnológica e econômica entre o mundo capitalista e socialista. Houve transformações de natureza do poder, antes baseado na quantidade e qualidade das armas, agora no controle de capital e tecnologia.
O entendimento puro do que seria essa Nova Ordem é o que determinou o ritmo da última década do segundo milênio. Não era apenas o século, a Guerra Fria, a bipolaridade ou a hegemonia em partes do mundo por parte dos soviéticos que havia terminado e sim a PRÓPRIA HISTÓRIA;
“Em 1989 foi lançado o livro O Fim da História e o Último homem, de Francis Fukuyama, funcionário do Departamento de Estado estadunidense. O autor diz que nunca mais haverá profundas transformações históricas. O capitalismo liberal é a sociedade final. A partir de agora, todos devemos esquecer as lutas políticas, os debates filosóficos e as realizações artísticas de vanguarda. Os conformistas de nosso tempo são os únicos sensatos”.
(fragmento do capítulo 23/A América Latina no século XX do livro Nova História Crítica Moderna e Contemporânea de Mário Shimdt, SP, editora Nova Geração, 1997).
ou
“A grande mudança que inspirou essa versão do fim da história é, evidentemente, o colapso do comunismo. Ou nas próprias palavras de Fukuyama “; a imperturbável vitória do liberalismo econômico e político sobre todos os seus concorrentes significa não apenas o fim da Guerra Fria, ou a consumação de um determinado período da história como tal: isto é, o ponto final da evolução ideológica da humanidade e a universalização da democracia liberal ocidental como forma de governo humano?”.
(fragmento do livro “O Fim da História – De Hegel a Fukuyama”, de Perry Anderson, tradução Álvaro Cabral. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1992, página 82).
Significados da Nova Ordem Mundial;
É consenso que desde o fim da Guerra Fria, os EUA passaram a liderar a Nova Ordem. Estabeleceu-se como fundamento desta ordem o “american way of life”. Fortaleceram-se também potências que se alinharam cada vez mais aos EUA. Caso do Japão e Alemanha.
Desdobramentos da Nova Ordem e onde se estabelece a Educação;
1 – O Plano Real no Brasil em 1994 a partir de diretrizes duras do FMI.
2 – O isolamento político cada vez maior de países que insistiram no modelo socialista, caso de Cuba.
3 – Reformas econômicas liberais dentro da China comunista a partir de 1993.
4 – O estabelecimento de vários blocos econômicos no mundo; Nafta, Mercosul, União Européia (Euro), Alça e Tigres Asiáticos.
5 – Instituição do neoliberalismo; enfraquecimento progressivo do Estado como administrador dos serviços públicos e de empresas até então sob sua responsabilidade (privatização).
6 – Reacomodamento do oriente médio com a Guerra do Golfo, 1991 e o processo de pacificação entre árabes e judeus a partir de 1993 sob a coordenação de Bill Clinton.
7 – Enriquecimento nunca antes visto dos EUA. Superávits seqüentes a cada ano na década de 90.
8 – Dolarização do mundo e universalização/globalização do modo de vida ocidental.
9 – Ampliação e massificação da informática.
10 – Novas técnicas determinando mudanças na indústria e no mundo do trabalho.
Essa ordem transcorreu durante toda década de 90, fechando o século e o milênio. Ao iniciar o primeiro ano do terceiro milênio eis que a Nova Ordem envelheceu e
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2ª parte: O problema do conhecimento.
Em qualquer ordem mundial o conhecimento é um problema e define as instâncias de poder nas nações ou grupos que desejam coordenar planos e projetos de organização geopolítica. Incluir a Educação neste processo de Ordem Mundial é perceber em que e onde se encaixa o poder do conhecimento. A informação globalizada serviu de estrutura a antiga Nova Ordem (falo da abalada ordem coordenada pelos EUA).
Desde os gregos na antiguidade o conhecimento do mundo e do homem sempre foi à possibilidade de relacionar-se com o mundo, transformando-o e desenvolvendo-o. A Filosofia e a História tornam-se na antiguidade a seqüência das formas de conhecimento adquiridas até então com a mitologia. Na Idade Média, o conhecimento religioso designa as formas de relação com o mundo também. Desta feita tendo Deus como intermediário e a Igreja Católica como formadora de opinião, conhecimento, doutrinas e regras de funcionamento da sociedade.
O fim da Idade Média e a chegada do século XVI trouxeram consigo novas visões de mundo partindo da contestação ao cristianismo. Temos agora a revolução científica e o antropocentrismo como núcleo do conhecimento das sociedades, não mais satisfeitas apenas com os dogmas religiosos.
A “invenção” do pensamento científico trouxe uma nova forma de manipulação do conhecimento. De novo este, continua a dividir a sociedade entre os que “sabem” e os que “desconhecem” o mundo. O uso das várias formas de materialização do conhecimento científico obrigou a humanidade massificar o conhecimento. Ou seja, como o homem manipularia o processo industrial ou fizesse parte dele se não tomasse conhecimento das interpretações e definições da ciência? Trazer o homem ao processo produtivo e torna-lo consumidor de objetos de uma sociedade burguesa obrigou-o a adaptar-se ao conhecimento. Uma das bandeiras da Revolução Francesa foi também à universalização da escola/conhecimento.
Desde então, a escola torna-se importante no processo de formação do estado burguês. O conhecimento ganha esta dimensão de estrutura da sociedade burguesa.
O último século XX aperfeiçoou todo esse processo. O conhecimento aliou-se a necessidade de rapidez da informação. A informação torna-se mercadoria e, portanto, consumível. Mais do que nunca a alfabetização da humanidade foi necessária. No livro A Era dos Extremos, Eric Hobsbawn chama a atenção que só no início do século XX que a população mundial teve mais alfabetizados do que analfabetos. Pouco mais de 50%. No final do século dados apontam que ainda 23% da população economicamente ativa ainda está analfabeta. Numa conta bruta sem muitos cálculos, se levarmos em consideração que a população mundial é de 6 bilhões de pessoas, imaginemos que 1, 4 bilhão de pessoas ainda não sabem ler e escrever.
IMPORTÂNCIA DO CONHECIMENTO NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE
1 Antiguidade;
“Necessário é dizer e pensar que só o ser é; pois o ser é, e o nada, ao contrário nada é; afirmação que bem deves considerar. Desta via de investigação, eu te afasto; mas também daquela outra na qual vagueiam os mortais que nada sabem, cabeças duplas. Pois é a ausência de meios que move , em seu peito, o seu espírito errante. Deixam-se levar, surdos e cegos, mentes obtusas, massa indecisa, para o qual o ser e o não ser é o considerado o mesmo e não o mesmo, e para o qual em tudo há uma via contraditória.”
(fragmento de um texto do filósofo Parmênides/Eléia Grécia 540-470aC)
“Para os que entram nos mesmos rios, correm outras e novas águas (...)Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio”
(fragmento de um texto do filósofo Heráclito/Éfeso Jônia (atual Turquia) 544-484aC)
“Considera agora o que lhes sobreviverá naturalmente se forem libertos das cadeias e curados da ignorância. Que se separe um desses prisioneiros, que o fornecem a levantar-se imediatamente, a volver o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos à luz...”
(fragmento do texto “A República” de Platão, filósofo Atenas/Grécia 428-347 aC)
“Os males não cessarão para os homens antes que a raça dos puros e autênticos filósofos cheguem ao poder.”
(Platão)
2 Idade Média;
“Aquilo que a verdade descobrir não pode contrariar aos livros sagrados, quer do Antigo quer do Novo Testamento.”
(fragmento de um texto de Santo Agostinho filósofo católico 354-430)
“Compreender para crer, crer para compreender.”
(Santo Agostinho)
“Deus não pode infundir no homem opiniões ou uma fé que vão contra os dados do conhecimento adquirido pela razão natural.”
(fragmento do livro Súmula contra os gentios de Santo Tomás de Aquino, filósofo católico século XIII)
3 Idade Moderna;
“Penso, logo existo!”
(fragmento do pensamento de René Descartes filósofo francês 1596-1650 / “pai da filosofia moderna”)
“Saber é poder!”
(fragmento do pensamento de Francis Bacon filósofo inglês 1561-1626)
“Preguiça e covardia são as razões pelas quais uma tão grande parcela da humanidade permanece na menoridade mesmo depois que a natureza a liberou da condução externa (...) e essas são também as razões pelas quais é tão fácil para outros manterem-se como seus guardiões (...)”
(fragmento do livro “O que é ilustração” de Immanuel Kant filósofo alemão 1724-1804)
“Todo ser vivo luta para conservar-se vivo, isto é evitar a morte.”
(fragmento do pensamento de Thomas Hobbes 1588-1679)
“Quem não quiser se equivocar deve construir sua hipótese, derivada da experiência sensível, sobre um fato, e não supor um fato devido a essa hipótese.”
(fragmento do pensamento do filósofo inglês John Locke 1632-1704)
4 Idade Contemporânea;
“Desde que o sol está no firmamento (...) não se tinha visto o homem 9...) basear-se numa idéia e construir segundo ela a realidade (...).”
(fragmento do pensamento Friedrich Hegel filósofo alemão 1770-1831)
“Não é a consciência dos homens que determina o seu ser social que, inversamente, determina a sua consciência.”
(fragmento do pensamento de Karl Marx filósofo alemão 1818-1895)
“Valores às coisas conferiu o homem, primeiro, para conservar-se – criou primeiro, o sentido das coisas, um sentido humano! Por isso ele se chama “homem”, isto é aquele que pensa, que avalia. Avaliar é criar, escutai ó criadores, somente há valor graças à avaliação e sem a avaliação, seria vazia a noz da existência.”
(fragmento do pensamento de Friedrich Nietzsche, filósofo alemão 1844-1900)
“Vivemos em uma sociedade que em grande parte marcha” ao compasso da verdade “– ou seja, que produz e faz circular discursos que funcionam como verdade, que passam por tal e que detêm, por esse motivo, poderes específicos.”
(fragmento do pensamento de Michael Foucault 1926-1984, filósofo francês)
“Hoje a dominação se perpetua e se estende não apenas através da tecnologia, mas enquanto tecnologia, e esta garante formidável legitimação do poder político em expansão que absorve todas as esferas da cultura (...)”.
(fragmento do pensamento do escritor alemão Hebert Marcuse 1898-1979)
3ª Parte; Educação hoje na nova “ordem” ou “desordem”?
É necessário ver a educação inserida ao que foi dito até agora. Atendendo a um projeto de organização geopolítica mundial e correspondendo à expectativa do conhecimento. Depois da Revolução Francesa e das reformas políticas do século XX a Educação enquanto serviço social ficou nas mãos do Estado. Este, passa a organiza-la da forma como bem atender ao seu projeto. É necessário ver o processo sob duas óticas distintas que só fundir-se quando entende-se a relação custo-benefício. O projeto teórico a escola que se pretende para obter o conhecimento esperado é parte da coisa. O financiamento deste projeto é o agente complicador, já que pela lógica capitalista, conforme denunciada pelos pensadores ao longo da História visa única e exclusivamente o lucro.
Pensando em termos de Brasil, pensemos o país optando ao projeto político Neoliberal da “Nova Ordem” mundial a partir de 1989.
O atual projeto de Educação no Brasil hoje começou a ser gestado em 1989 quando o país iria concretizar seu primeiro processo de eleição presidencial depois de 20 anos de ditadura. Ainda no processo eleitoral organizou-se nos EUA muitas reuniões afim de averiguar a saúde financeira de alguns países de terceiro mundo, países subdesenvolvidos. Organizado pelos principais órgãos credores do planeta como mega bancos BIRD, Banco Mundial e FMI os banqueiros chamaram à mesa assessorias de candidatos à presidência, inclusive daquele que viria a vencer o processo eleitoral, Fernando Collor.
CONSENSO DE WASHINGTON
Este foi o nome dado ao acordo entre esses órgãos financeiros e os governos de países, inclusive o Brasil.
Foram assinados documentos onde cada um se comprometeria a cumprir 10 metas de reorganização do Estado adequando-se assim a “Nova Ordem” mundial.
1 – Ajuste Fiscal.
2 – Redução do Tamanho do Estado.
3 – Privatização.
4 – Abertura Comercial.
5 – Fim das restrições ao capital externo.
6 – Abertura financeira.
7 – Desregulamentação dos direitos trabalhistas.
8 – Reestruturação do sistema previdenciário.
9 – Investimento na infra-estrutura básica.
10 – Fiscalização dos gastos públicos e fim das obras faraônicas.
Para cumprir essas metas o Brasil contou com empréstimos gigantescos do FMI para reequilibrar suas contas internas e iniciar um novo processo em suas História. Era necessário também o Brasil adequar-se a uma nova realidade dentro do mundo do conhecimento e das ciências. Além dos acordos assinados no plano econômico, o país também assinou vários acordos na esfera da educação. O principal destes acordos foi com a UNESCO, órgão da ONU encarregado das questões educacionais e culturais do mundo;
UNESCO Organização das Nações Unidas para Educação
Na Tailândia em 1993 o Brasil assinou um importante acordo com o grupo E9 para acabar/diminuir o número de pessoas analfabetas. Nove países estão neste grupo; China, Brasil, Bangladesh, Egito, Paquistão, Nigéria, Índia e Indonésia.
Fizeram parte das reformas educacionais a fim de colocar o país nesta “Nova Ordem”;
a) Aprovação de uma nova LDB Leis de Diretrizes e Bases para a Educação.
b) Adoção de uma série de reformas no projeto de educação dos Estados. São Paulo a partir de 1995 tornou-se pólo destas mudanças.
c) Adoção dos ciclos, fim da repetência, aumento do número de matrículas, aprovação de um novo estatuto do magistério e reorganização (não aumento) das verbas para a Educação. Aprovação da Emenda Constitucional 14.
d) Redefinição da formação do professor. Obrigatoriedade de curso superior ou equivalente para todos os professores obterem licença para o magistério.
e) Adoção de gestão participativa com a comunidade que utiliza os serviços de educação.
f) Informatização progressiva das escolas. A começar pelos serviços administrativos até fazer o computador chegar às salas de aula.
- houve uma série de outras mudanças, as elencadas acima não tem uma ordem lógica, pois apenas exemplificam as medidas exigidas por órgãos internacionais que passaram a gerir os recursos para o ensino no Brasil.
- Desde então o Brasil passou a prestar contas a estes órgãos e as referências passariam a ser meramente quantitativas medindo o número de repetentes, matriculados, evasivos e que se formariam dentro das idades exigidas.
A entrada do Brasil nesta Nova Ordem foi ao meu ver uma pressão do capitalismo que foi se renovando ao longo de sua história. Parece-me que o analfabetismo é empecilho ao processo de reprodução do capital. Há uma infinidade de textos estudados para o último concurso público para o ingresso no Estado que dão conta disso; Os mentores educacionais apontam;
a) Nos países onde as taxas de analfabetismo são baixas, são baixas também o número de garotas que engravidam antes da hora. E mesmo aquelas que engravidam, por terem elevado nível cultural sabem cuidar corretamente de seus bebês impedindo que fiquem doentes.
b) Nos países onde a repetência é menor ou não existe, as pessoas perdem menos tempo com a Educação Fundamental formando-se logo para o mercado de trabalho.
c) Em países onde o sistema de ensino é bem estruturado, a mão de obra ali formada é de alta qualificação profissional. Os funcionários sabem bem interpretar manuais, pois lêem de acordo. E mesmo como usuário não tem essas dificuldades.
d) Em países com baixa taxa de analfabetismo há um melhor desempenho do exercício da cidadania, pois as pessoas são mais educadas, não jogam papel no chão, respeitam o patrimônio público e os serviços que o Estado oferece.
E por aí vai. O modelo apenas dá uma nova fachada nas desigualdades imperpretadas pelo capitalismo. Não há qualquer inversão no processo e nem por universalizar o ensino, isso vai garantir o acesso social das pessoas. Ele, o acesso continua existindo de forma limitada como sempre foi. A miséria tem passado por um processo de redistribuição dela mesma. Não faltam reportagens da mídia apontando o quanto às crianças hoje, principalmente as de escola pública estão despreparadas mesmo indo a escola. São semi-analfabetas e vivem uma desmotivação muito grande de freqüentar as escolas, afinal o que realmente mudou? A classe dos professores continua com seus salários arrochados e mesmo com sensíveis aumentos, eles acabam se tornando insignificantes diante do atraso que viveu nas últimas décadas.
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