Ao ingressar na escola do Sítio, o professor Doni implantou alguns procedimentos burocráticos para acompanhamento do desempenho de seus alunos. Em local visível dentro das salas, foram afixados quadros de notas para que cada aluno acompanhasse seu desempenho. O professor esperava também que o ritmo avaliativo do grupo a todo instante pudesse ser verificado pela turma. Procedimentos estes corriqueiros em outras escolas atualmente.Para surpresa do professor tal procedimento não teve uma boa recepção por parte de alunos e pais. Inclua-se aí alguns colegas da equipe. Criada a polêmica o professor partiu para os esclarecimentos. Notou-se o erro da forma encaminhada por parte do professor, que deveria realizar consultas antes da afixação dos quadros. No entanto o conteúdo do encaminhamento é inquestionável tendo em vista que é direito do aluno ter acesso rápido aos seus conceitos. O encaminhamento é verificado em outras escolas, apontando-se a expectativa de autonomia do aluno que percebendo seu desempenho, sabe exatamente a todo instante se necessita estudar mais. No caso de estar bem pode ser motivado a auxiliar o colega com dificuldades de aprendizado tornado-se assim um parceiro indispensável ao professor no processo. Tamanha normalidade encarada pelo professor com o procedimento que acabou postergando a discussão dos quadros. Os argumentos apresentados contra os quadros vieram em sua maioria dos alunos. Alguns apenas não entenderam outros apostaram na revogação da afixação sem uma discussão mais profunda. “Não vi e ouvi, no entanto não gostei também”. Era a idéia de que exposto a análise constante do grupo, “alunos com dificuldades estariam sendo expostos a situações vexaminosas”(sic!). O professor identificou um discurso anacrônico aí! Por quê? Há mais de duas décadas muitos paradigmas educacionais foram removidos da academia e conseqüentemente do sistema.Trata-se por exemplo, das famigeradas “salas especiais” onde viviam alunos com as mais diversificadas dificuldades. Deficiência áudio visuais, orais, dislexias diversas, hipercinéticas entre tantas outras. O raciocíonio de mante-los escondidos em uma célula do sistema jusficava-se pela necessidade de acompanhamento específico. Resultados nem sempre favoráveis ao aluno, já que por conviver em grupos com dificuldades tão ou mais sérias que as suas viviam na limitação de um ou outro avanço. Foram os vários projetos de inclusão que iniciam um momento novo no ensino. Implodidas as “salas especiais”, os então alunos “especias” foram conviver nos grupos dos chamados “alunos normais”. Ali, obrigados a superarem barreiras e sendo desafiados a todo instante as deficiências não são curadas, mas equilibradas cognitivamente. Há melhoras sensíveis sim! Muito se escreveu e já se falou sobre isso. Um dos fatores que justificavam a existência dos quadros era manter visível a evolução (ou não) das dificuldades dos grupos e acima de tudo trabalhar com eles! Alunos nessa roda viva, acabam socializando suas potencialidades e superando barreiras, em grupo. O efeito imediato também atinge o grupo. Haveria uma tonelada de argumentos a favor da manutenção do quadro. Mas o novo professor de História acabou capitulando e atendendo a vários pedidos retirou os quadros e adaptou-se ao sistema da escola. No entanto a discussão sobre o processo da avaliação não se esgotou aí. A equipe de professores, continua a refletir sobre a questão. Por hora, prevalece o simplismo dos argumentos dos alunos que submeteram o encaminhamento a sua suspensão imediata. Ainda que o professor contra argumentasse, foi superado pela lógica do “iniciante na escola que tem muito a aprender” ou “mal chegou e já quer mudar tudo”. Manter as notas em um segredo quase confecional, lembra o professor “sugere uma idéia do perído milirar”. Segundo o professor, “o então Ministério do Trabalho do regime militar sugeria às empresas manter nos holleriths de seus funcionários a máxima; “Não divulgue seu salário a ninguém ele só interessa a você”. Por que será? Guardando segredinhos funcionais desmobilizava-se categorias e impunha uma luta torpe por aumentos salarias individuais criando acirradas lutas nos ambientes de trabalho, as vezes das formas mais desumanas. A urgência de uma discussão mais acadêmica sobre o assunto está exposta em nossa agenda de trabalho.
(originalmente publicado aos pais dos alunos da escola do Sítio em março de 2001)
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